Pesquisas mostram que existe um fator que faz grande diferença no
desempenho do seu filho, na escola e na vida. Algo mais determinante do que
inteligência ou recursos: a sua boa conexão com ele
Qual é a melhor ferramenta para
garantir um bom futuro ao
seu filho?
Uma poupança que
banque uma ótima educação?
Cursos e
atividades
extracurriculares que o ajudem a desenvolver múltiplas habilidades?
Estímulos adequados
desde a concepção até os primeiros anos, quando o cérebro está em formação e absorve quantidades enormes de dados?
Ou ao contrário, deixá-lo dispor de
tempo livre para experimentar
e descobrir
o mundo?
Essas dúvidas cruzam a mente
de pais e mães por todo o planeta. Algumas nos torturam até, ou nos enchem de
culpa e de trabalho extra, já que bancar boas escolas e cursos não custa pouco.
A questão é que a resposta correta talvez não esteja aí. "O que mais
importa no desenvolvimento de uma criança não é a quantidade de informação
introduzida em seu cérebro nos primeiros anos de vida. E, sim, ajudá-la a
desenvolver um conjunto de características, como persistência, autocontrole,
curiosidade, escrúpulos, determinação e autoconfiança, que vão fazer diferença
tanto no seu desempenho escolar como por toda a vida", diz o jornalista
americano Paul Tough, autor do livro Uma Questão de Caráter (Ed. Intrínseca),
que investigou por que características emocionais podem ser mais determinantes
do que inteligência ou recursos em uma educação de sucesso.
Mas como garantir que essas características emocionais
se desenvolvam?
Vários estudos comprovam que existe uma condição essencial, primeira - e
determinante para que elas aflorem. Quer saber a melhor parte? É grátis e está
ao alcance de todos nós. Trata-se de uma
ferramenta poderosa, que nasce e cresce com cada mulher e com
cada homem que se tornam mãe e pai: dedicar
ao seu filho sua presença, seu cuidado atento, seu amor.
Assim, antes de se perguntar
se é melhor tocar Mozart para o seu bebê recém-nascido ou pesquisar desde já
bolsas de estudos em faculdades top de linha, talvez seja melhor analisar um
período de licença maternidade maior ou a diminuição da sua jornada de
trabalho. Resultados de diferentes pesquisas apontam que, para que seu filho
adquira a segurança e as habilidades necessárias para usufruir de tudo o que
você - e o mundo - puderem colocar à sua disposição, para que ele desenvolva ao
máximo suas potencialidades, o que mais ele necessita é de uma conexão amorosa
com vo-cê. Você.
O psicanalista britânico
John Bowlby e Mary Ainsworth, pesquisadora da Universidade de Toronto, já
haviam mostrado, em uma série de estudos publicados na década de 1960 e início
da década de 1970, que os bebês cujos pais atendiam pronta e plenamente ao seu
choro nos primeiros meses de vida mostravam-se, com 1 ano de idade, mais
independentes e intrépidos do que aqueles cujos pais os tivessem ignorado. Na
pré-escola, esse padrão se confirmava. Crianças cujos pais tivessem reagido de
maneira mais sensível às necessidades emocionais delas quando bebês eram as que
demonstravam maior autonomia.
Seguindo a mesma linha,
Clancy Blair, pesquisador de psicologia na Universidade de Nova York, vem
promovendo um experimento em larga escala no qual acompanha um grupo de mais de
1.200 crianças praticamente desde o nascimento. Um dos testes que faz é medir
os níveis de cortisol dessas crianças ao enfrentarem situações adversas. O
cortisol é um hormônio intimamente ligado ao sistema emocional, que serve para
controlar inflamações, alergia, estresse. A intenção é ver como cada criança
reage em momentos de turbulência familiar, caos, tumulto, ou seja, como lida
com instabilidade e problemas.
Blair constatou que esses momentos de fato têm grande efeito nos níveis de cortisol das crianças — mas apenas quando as mães se mostram desatentas ou indiferentes. Quando as mães apresentam um alto grau de atenção e se conectam positivamente com as crianças, o impacto desses fatores ambientais sobre os filhos parece quase desaparecer. Ou seja: cuidados de alta qualidade funcionam como um poderoso amortecedor perante eventuais danos causados pela adversidade. E constituem uma base segura a partir da qual a criança se coloca perante o mundo e o explora com maior eficácia. Mas em que consiste exatamente esse cuidado de qualidade? Veja, em cada etapa do crescimento, como ele pode se traduzir.
E se algo sai do
trilho?
"Quando as relações não
vão bem, não são adequadas, as crianças costumam dar sinais. Esses sinais podem
vir na forma de alergias, de doenças que se repetem, de mau comportamento, de
dificuldades no aprendizado, de maior agressividade ou de uma extrema timidez
ou falta de socialização, por exemplo", explica Lais. Algumas fases mais críticas,
nas quais esses sinais costumam manifestar-se são o momento de tirar as
fraldas, a alfabetização - hora em que a criança vai inscrever-se no mundo e
dizer quem é -, ou a adolescência. Muitas vezes, nesses períodos, surgem
dificuldades que não têm a ver com deficiências físicas ou cognitivas, mas são
a manifestação de faltas emocionais ou de dificuldades familiares que as
crianças experimentam. O melhor a fazer quando isso acontece é procurar ajuda.
Vale a pena pedir assistência a um psicólogo, a um orientador da escola, e
agir. "Por sorte, as crianças respondem bem, mudam e se adaptam rápido.
Por isso, quanto antes, melhor. Se a falta de vínculo e a desconexão se
perpetua, isso vai se agravando e ocupando um espaço maior na vida da criança. Agora,
é importante o adulto estar disposto a ouvir e a mudar também", diz Lais.
"Todos nós vivemos faltas, e cada um faz o que pode com isso. Mas não há
mal nenhum em pedir ajuda, aconselhamento profissional. Muitas vezes, algumas
poucas consultas servem para retomar o contato e encontrar caminhos mais
saudáveis."
Texto Carolina Tarrío
(Este material corresponde a parte de um artigo da “Educar
Para Crescer”. Você pode acessá-lo na
íntegra aqui: http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/vinculo-790582.shtml?utm_source=redes_educar&utm_medium=facebook&utm_campaign=redes_educar )