30 de abr. de 2015

Cyberbullying pode começar em casa

Por Lucas Parisi – Psicólogo cognitivo com estudos focados em comportamento digital, dependência de internet, infância e família. Integrante da Rede Brasileira Infância e Consumo
Uma pesquisa recente do C.S. Mott Children’s Hospital da Universidade de Michigan denominada Parents on social media: Likes and dislikes of sharenting revelou o seguinte: mais da metade das mães e um terço dos pais reconhecem que eles compartilham os prós e os contras na criação dos seus filhos, enquanto usam a internet.
Casos de exibição dos problemas rotineiros nos lares estão tomando proporções muito maiores com um tipo de comportamento que especialistas chamam de oversharenting, uma das palavras mais citadas na web em 2013 e, conforme tudo indica, cunhada pelo Wall Street Journal. Acontece quando pais usam excessivamente as mídias sociais para exporem questões relacionadas à criação dos seus filhos.
Num exemplo prático é mais ou menos assim: a criança faz um vômito, o pai ou mãe fotografa e logo em seguida a foto está na rede social seguida de dúvidas e pedidos de socorro. Neste exemplo, o caso pode parecer uma maluquice e digno de perguntas do tipo: “como pais podem fazer isso com os filhos?”. Conforme revelado na pesquisa não é uma maluquice. É prudente pensar que esta situação é “absurda”, mas neste contexto, estamos falando de pais Y com características exageradas e com traços de early-adopters, os grandes usuários de tecnologias digitais.
A pesquisa revela também que eles não estão tão preocupados com as potenciais consequências negativas do overshareting e sim em resolver seus problemas. A escassez do tempo e o dia a dia corrido dos pais têm gerado em seus cotidianos comportamentos impulsivos mediados por uma necessidade imediata de resolução de conflitos e problemas. Com isso, as tecnologias digitais como Facebook, Twitter, blogs e demais mídias (como os grupos de WhatsApp) são parceiros fortes na compensação e autopreservação dos pais quando estão diante de uma possível frustração em sua dinâmica familiar.
As crianças, com certo medo, estão se distanciando destes tipos de plataformas digitais. Segundo pesquisas do comportamento infantil na internet, as crianças de até 11 anos, já começam a sair das redes, onde seus pais estão infiltrados. Eles alegam principalmente que a identidade digital deles, ou as múltiplas identidades quando falamos de Nativos Digitais – compartilhadas por seus pais -, não estão de acordo com o que eles acham ou pensam de si mesmos. Logo é prudente pensar que os riscos de privacidade e segurança dos filhos estão neste sentido, ficando comprometidos.
A pediatra Sarah J. Clark, pesquisadora associada do Departamento de Pediatria da Universidade de Michigan, destaca que “compartilhar as alegrias e os desafios da paternidade e da maternidade documentando a vida das crianças publicamente, tornou-se uma norma social, com efeitos positivos e negativos.”
Quando pensamos em norma social, a pesquisa deixa claro que os pais estão muito dispostos a convidar outros pais para o over-share online e isso os deixa mais tranquilos, e segundo eles, aptos a compartilharem com segurança as suas vivências em família, trocando experiências muitas vezes comuns. Mais da metade dos pais, precisamente três quartos deles, dizem que conhecem alguém que partilha informações sobre seu filho e que, portanto, poderia ser apto em auxiliá-lo em tomadas de decisões mais prudentes.
Aqui se vê um tipo de equivalência de padrão que pode ser drástico.
Mas, e então, se algo pode ir para a rede, o que de fato pode ser mais prudente quando pais compartilham situações sobre seus filhos? Casos como comentários tipo “hummm, que delícia comendo o bolo da vovó!” ou “tomando banho de mangueira no jardim!” (a criança nua não, por favor), seguidos de fotos, podem ser situações muito agradáveis ao convívio social da criança.
Entregar a privacidade dos filhos na internet é o grande problema. O mais prudente é sempre a conversa, o diálogo e a aceitação dos limites que a criança pede e requer, quanto à exposição de sua imagem. Talvez isso possa parecer incompreensível, o fato da criança aceitar ou não a exposição de suas fotos, mas certamente não é. Imagine a criança chegando na escola e os coleguinhas comentando a foto que circulou na internet enquanto ela vomitava? Não podemos pensar que os limites da privacidade da criança existe somente depois que ela atinge uma idade X ou Y ou seja capaz de escolher. As teorias psicológicas do desenvolvimento explicam que a partir dos 6 anos, qualquer criança já compreende satisfatoriamente a maioria das regras das relações sociais e percebe quando alguém pode ou não estar quebrando uma dessas regras.
A internet não pode ser um assombro para os filhos e nem tampouco um motivo de desajuste entre as famílias. Seu propósito não é este. Assim, pais, fiquem atentos, nem tudo precisa ir para a internet. Estejam atentos aos seus filhos. Na dúvida, dialogue com eles, crie espaços para a manifestação do pensamento e dos sentimentos. Sua família agradece.

28 de abr. de 2015

Fala São José no CEM Luar


No último sábado aconteceu mais uma edição do Fala São José, desta vez no CEM Luar.  Na ocasião, os Agentes de Referência do EMFRENTE, Aline de Assis Scherer (CEI Nossa Senhora Aparecida) e Graziela Souza Bezerra (CEI Lisboa) desenvolveram atividades junto às crianças, enquanto os Agentes de Referência representantes da Guarda Municipal de São José Angela Augusta Welter, Cleber Costa e Patrícia Probst  contribuíram na organização e operacionalização das atividades junto à Coordenação do EMFRENTE, representada por Eleide Eli Brito, Angela Gonçalves e Débora Augusto Silva e Silva. 

Além dos serviços que já vem sendo oferecidos em outras edições do Fala São José, naquela ocasião a Coordenação do EMFRENTE articulou as ações realizadas em parceria com a Jornada da Cidadania, que comporta os serviços do Portal da Esperança, Delegacia de Polícia de Pessoas Desaparecidas (palestras e dicas preventivas), Ótica Francini (acuidade visual),  Procon Estadual (defesa do consumidor), Colore & Pinta (pintura facial), Duda Monial (dicas de beleza e estética), Instituto Mais Saúde (orientação para a saúde), Central de Cursos (manipulação de alimentos), Centro Universitário Estácio de Sá (assessoria jurídica), dentre outros.




Gerson, do Portal da Esperança, orientou às crianças com relação à importância da prevenção contra o desaparecimento, de forma lúdica e divertida.

 

Em ações como esta fica evidente a importância do desenvolvimento do trabalho em rede para o pleno atendimento da comunidade.


Segundo o site da Prefeitura Municipal de São José (http://www.pmsj.sc.gov.br/2015/04/moradores-do-loteamento-luar-sao-atendidos-no-fala-sao-jose/), para a Prefeita Adeliana, o contato direto com os moradores é muito importante, pois permite que a administração municipal invista nas obras e projetos prioritários para aquela comunidade. “Como infelizmente os recursos públicos são limitados, é fundamental que a gente possa investi-lo nos projetos que farão a diferença na vida daquelas pessoas. Por isso, o Fala, São José! é uma oportunidade tão especial.

 
Crédito das imagens:  Wellington Gomes Fotografias 

27 de abr. de 2015

Quando a convivência com a violência aproxima a criança do comportamento depressivo


O estudo realizado por Joviana Avanci, Simone Assis, Fraquel Oliveira e Thiago Pires 
e publicado na revista Ciência e Saúde Coletiva investiga a associação entre o comportamento retraído/depressivo de crianças escolares e a presença/ausência de violências vividas em casa, na escola e na comunidade. 

É um estudo descritivo com dados seccionais de 479 alunos entre 6 e 13 anos de idade, da 1ª série do ensino fundamental de escolas públicas de um município do Rio de Janeiro. O desenho amostral é do tipo conglomerado simples em três estágios de seleção, com proporção de 50%, nível de confiança de 98% e erro relativo de 5%. Variáveis sociodemográficas da criança e da família, a subescala de retraimento/ depressão (CBCL), a Escala de Conflitos e de violência na escola e na comunidade são investigadas. A análise de correspondência múltipla foi a principal técnica estatística empregada. 

Os resultados indicam que as diferentes vitimizações de violência tendem a estar mais próximas do comportamento de retraimento/depressão a nível clínico e limítrofe. Programas e políticas públicas necessitam abordar a conjuntura da vida infantil, com o foco na intervenção dos problemas de saúde mental, das violências e da condição de vitimização de crianças e adolescentes, com vistas a interromper as revitimizações pela violência, assim como as suas conseqüências.

Confira o artigo na íntegra, aqui:  http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=63013532008

23 de abr. de 2015

Projeto “Criança Exposta ao Vírus HIV em São José” recebe prêmio


O EMFRENTE vem, com alegria, parabenizar a equipe de Vigilância Epidemiológica/ Secretaria Municipal de Saúde de São José pelo projeto vencedor da medalha Nacional Zilda Arns, na categoria Políticas Públicas Integradas para a Primeira Infância. Em especial a Psicóloga Graziele Justino e as Assistentes Sociais Patricia Carmen Rodrigues e Karini Medeiros (nesta ordem, na imagem acima), que escreveram o projeto que impactou diretamente na vida de 78 crianças do município de São José, recebendo o tratamento adequado mediante à exsposição ao vírus HIV, tendo o mesmo negativado. 
Este grupo já vem desenvolvendo uma parceria de longa data com o PENSEEducação/Setor Pedagógico da Secretaria Municipal de Educação, contribuindo na orientação aos educadores a partir do conhecimento técnico e prático de seus fazeres profissionais no que diz respeito à proteção à infância josefense.

Compreenda melhor o contexto em que vem se dando o desenvolvimento deste trabalho, a partir das palavras da Assistente Social Patricia, a seguir:
“Em 2012 solicitei transferência para a Vigilância Epidemiológica e fui muito bem recebida pela Diretora na época que acreditou no meu trabalho, a Enfermeira Michelle Estácio e que após insistência de uma técnica investigadora Jandira Lopes Vieira por uma assistente social, solicitou que eu trabalhasse com ela na busca ativa de crianças expostas ao vírus HIV. Não tenho nem palavras pra descrever tudo o que a Jandi me ensinou e o trabalho importantíssimo que iniciamos juntas. Tive minha vida profissional transformada! Lembro-me quando íamos ao Hospital Infantil fazer as buscas e o setor do Hospital Dia nos mostrava a pilha de prontuários de crianças oriundas de São José que nunca realizaram o tratamento e que ninguém sabia se estava infectada ou não. Em pouco tempo colocamos em dia. Foi um trabalho difícil. Doloroso até em alguns casos, mas extremamente recompensador quando pegávamos cada resultado negativo. Esse prêmio, se eu pudesse dar a alguém seria para ela e para todas as famílias vulneráveis que lutam por suas crianças mesmo sem condição pra isso. Porém hoje conseguimos ampliar a equipe e o projeto vencedor da medalha Nacional Zilda Arns foi escrito pelas mãos de nós três eu, Graziele Justino e Karini Medeiros numa parceria incrível entre serviço social e psicologia que qualificou ainda mais o trabalho que antes era desenvolvido. Mas temos a consciência de que toda nossa equipe nos dá suporte e apoio para conseguir executar um trabalho de qualidade e com eficiência. Portanto esse prêmio é de TODA equipe do Centro de Vigilância em Saúde de São José que por muitas vezes não tem seu trabalho reconhecido e nem condições favoráveis para desenvolvê-lo, mas mesmo assim o executa com humanidade, amor e profissionalismo. De 2011 a 2015 foram 78 crianças que buscamos e conseguimos manter o tratamento e negativá-las! São 78 vidas que estão saudáveis! E sim, por nossa intervenção. Tenho orgulho da equipe que faço parte. Tenho orgulho do meu trabalho e tenho orgulho tbm de receber esse prêmio junto de minhas colegas. Não posso deixar aqui de destacar tbm a nossa farmacêutica Silvana Stimamiglio que é essencial neste trabalho, assim como a nutricionista Scheyla que é uma super parceira. As nossas investigadoras Albanira Figueira e Cristina Costa. Os motoristas Volnei Santos Fortkamp e Carlinhos Silva além da nossa atual Diretora Elaine Cunha e a coordenadora Silvia Netto que são incansáveis na luta pelo nosso trabalho.”

22 de abr. de 2015

Blog do EMFRENTE - Rumo às 20.000 visualizações



O blog do EMFRENTE, com 277 postagens (e outras 10 já programadas), está no ar desde 21/06/2012 e foi criado com o propósito de difundir, entre os educadores da Rede Municipal de Ensino de São José, informações úteis em práticas de prevenção, identificação, manejo e enfrentamento das violências contra crianças e adolescentes de nossa Rede.  Uma vez que muitas das informações que as coordenadoras pesquisavam consistiam em materiais extensos ou repletos de ilustrações, que "voltavam" por extrapolar a capacidade da caixa de e-mails dos Agentes de Referência (como são denominados os participantes da formação do EMFRENTE, que atuam como multiplicadores nas respectivas instituições de ensino, de Educação Infantil ou Ensino Fundamental), buscou-se o blog como um espaço de armazenamento destas informações de forma pública. Contudo, seus limites acabam por extrapolar nossa rede e nosso município (São José - SC), conforme ilustra a imagem a seguir, com leitores dos Estados Unidos, Rússia, Alemanha, Malásia, dentre outros.


Com relação à origem do tráfego, grande parte dos leitores vem direcionado pelo Google, seguidos pelo Facebook.

 
Dentre a ampla gama de postagens, as mais lidas remetem à um material para se trabalhar os direitos das crianças e adolescentes, seguida por literaturas que auxiliam na prevenção às violências contra crianças e adolescentes e, mais recentemente, a ação desenvolvida junto aos alunos do Curso de Psicologia da UFSC, onde se propôs um mosaico confeccionado pelos mesmos simbolizando a contribuição da Psicologia no combate à violência contra criança e adolescente.
 
 
Nos três últimos anos nosso blog vem se disseminando e, com ele, a divulgação de materiais de qualidade, produzidos por fontes diversas (todas aqui citadas/linkadas), que podem servir de base tanto pelos educadores em sua prática profissional, quanto pela comunidade em geral (pais, tios, avós, etc.).  São quase 20.000 visualizações de pessoas buscando informação sobre prevenção às mais diversas formas de violência que acometem crianças e adolescentes.
 
 
E se você desejar receber notificação de cada nova postagem do blog do EMFRENTE, basta se cadastrar na barra ao lado (esquerda), colocando seu e-mail e esperando pelas próximas notícias! Volte sempre.
 
 

Pais violentos deixam danos por toda a vida


Nossa vida social começa desde a infância, na companhia dos irmãos e dos pais, mas são os pais que definirão nosso futuro. Por esse motivo, quando os pais são violentos, definem padrões e condutas que irão nos afetar por toda a vida.  Você é um pai violento? Sabe como identificar um?

Definindo a violência

Geralmente associamos o termo “violência” com a agressividade física, no entanto, esse sério problema também pode se dar através da violência psicológica. A violência psicológica se manifesta através de palavras que ferem moralmente, atitudes que buscam menosprezar os demais, e também através da indiferença. Todas essas atitudes acabam ferindo os filhos, de maneira consciente, ou não.

Por que os pais são violentos com os filhos?

As razões para estes comportamentos são várias, e muito particulares em cada caso, mas as mais comuns são:
- Muito estresse, ou cansaço: As obrigações são muitas e podem fazer com que os pais percam o controle, por exemplo, ao chegar em casa depois de um longo dia de trabalho. E não se engane, esta situação pode acontecer tanto com homens, quanto com mulheres.
- Educação recebida: Infelizmente, os padrões de violência tendem a se repetir e, quando um pai foi vítima de semelhante violência na infância, costuma educar seus filhos da mesma forma.
- Busca de alívio pela violência que sofreu: Isto acontece quando um dos pais exerce a violência sobre o outro, e a vítima decide agir contra os filhos, para assim tentar obter novamente o controle da situação. Infelizmente, quando se chega a esta situação, ninguém mais tem o mínimo controle. Dessa forma, todos os membros da família acabam afetados.

Como são afetados os filhos de pais violentos?

É inevitável que as crianças que sofrem violência por parte de seus pais, sejam afetadas em suas habilidades sociais, mas cada um irá desenvolver uma personalidade diferente:
- A criança reservada: É aquela que busca se proteger através do isolamento. Essas crianças geralmente têm uma personalidade tímida e poucas habilidades sociais. Costumam ser muitoinseguros e, quando adultos, essa situação pode não mudar muito; podem até permitir que outras pessoas a agridam.
- A criança vitimista: Ao contrário da criança reservada, essa personalidade busca se livrar da ira agredindo os demais, da mesma forma como foi agredido. Quando adulto, pode se tornar uma pessoa violenta, que machuca aqueles que estão ao seu redor, repetindo o padrão de violência.
- A criança protetora: Esta característica é comum em crianças mais velhas, que costumam se sentir na obrigação de proteger seus pais e irmãos, que também são vítimas. Quando adulto, podem se tornar pessoas que sempre entram em conflitos, com a intenção de proteger alguém.

As crianças de hoje serão os pais amanhã

A violência dentro da família é uma situação terrível para aqueles que a vivem. Porém, para os filhos, a situação se torna ainda mais séria, pois isso os marcará para sempre, podendo levá-los à infelicidade pelo resto de suas vidas.

20 de abr. de 2015

Violência intrafamiliar contra a criança: revisão de literatura

Por http://www.radardaprimeirainfancia.org.br/sociedade-brasileira-de-enfermeiros-pediatras/


O  estudo aqui divulgado teve por objetivo identificar na literatura científica as publicações a respeito da violência intrafamiliar contra a criança. Foram selecionadas 24 publicações científicas que deram origem a duas categorias: A violência na saúde e na vida socioafetiva da criança e A atenção de enfermagem frente às situações de violência contra a criança.
As autores concluem que é importante reforçar a violência à criança, como um problema de dimensão social que merece atenção na perspectiva multidisciplinar. Respaldada no projeto intencional e intersubjetivo que precisa envolver a criança e o familiar com base em seu contexto social e cultural que fundamentam o seu modo de ser e estar no mundo.

16 de abr. de 2015

Psicologia da UFSC no combate à violência sexual contra crianças e adolescentes


Na manhã de hoje as coordenadoras do EMFRENTE participaram de uma aula dos alunos da 6ª fase do Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina, a convite da professora e psicóloga Raquel de Barros Pinto Miguel. Na ocasião explanou-se a respeito da atuação da Psicologia Educacional na Secretaria Municipal de Educação de São José. E, como dentre as ações destacam-se aquelas voltadas ao manejo e enfrentamento das violências contra crianças e adolescentes da Rede Municipal de Ensino, procurou-se enfatizar a importância da função do psicólogo neste processo. 


Descreveu-se as ações que já vem sendo desenvolvidas pelo EMFRENTE desde o ano de 2010, quando este trabalho iniciou-se a partir da prática de estágio em Psicologia Escolar, numa parceria também entre a UFSC e a SME/PMSJ. E o quanto o psicólogo pode contribuir na orientação e formação continuada dos profissionais da educação, no desenvolvimento de um olhar sensível, de uma escuta aguçada e de uma fala adequada às ocasiões de suspeita de violência contra crianças e adolescentes.


Com a aproximação da data de mobilização nacional ao combate ao abuso e violência sexual contra crianças e adolescentes (18 de Maio), entregou-se panfletos da campanha “Faça Bonito”, apresentando-se a mesma, e convidando o grupo ao desenvolvimento de uma atividade prática:  Representar, em retalhos entregues aos mesmos, o entendimento que possuem acerca da contribuição da Psicologia na prevenção e manejo desta forma de violência.  Este material poderia ser produzido com os materiais oferecidos aos alunos (como giz de cera, lápis de cor e caneta hidrocor) que se organizaram de formas diversas:  alguns individualmente, outros formaram duplas, enquanto determinadas produções se deram em maior grupo.  O tempo não foi suficiente para a apresentação das obras, mas após “amarrar” cada retalho, um aos outro,  procurou-se enfatizar a importância de cada sujeito, no desenvolvimento de sua função de cidadão, além das funções profissionais, nesta trama, no grande mosaico que deve caracterizar o combate à violência.  

A criatividade imperou, naquele momento.  Foram jovens dando as mãos, para que a colega reproduzisse esta imagem num desenho; houve quem representasse o símbolo da psicologia num escudo, objeto necessário nesta luta; ou ainda a sugestão às crianças e adolescentes de se inspirarem nos seus super-heróis e pensar no que eles fariam se fossem vítimas de violência.  Ao final sorteou-se uma camiseta da campanha Faça Bonito entre os estudantes, incentivando-os a desenvolver alguma ação em prol da campanha.

13 de abr. de 2015

Amanhã: Segundo encontro de formação do EMFRENTE

 
Aos Agentes de Referência
 
Estamos confirmando o segundo encontro de formação do EMFRENTE, no ano corrente.  Na data de amanhã, 14/04, discutiremos as diferentes formas de violência contra crianças e adolescentes e suas manifestações.  Além disso, alguns materiais de apoio para trabalhar as temáticas junto aos alunos serão apresentados, bem como sugestões de ações para o 18 de Maio (prevenção à violência sexual contra crianças e adolescentes).
Lembrando que no período matutino as atividades iniciarão às 08h30, enquanto que no período da tarde, às 13h30, na Casa do Educador.

Causas da violência sexual contra crianças e adolescentes


A  violência sexual contra crianças e adolescentes apresenta causas múltiplas e complexas. Ela está relacionada com questões sociais, econômicas e culturais e deve ser analisada com cuidado e critério levando em conta as diferentes variáveis para o abuso e a exploração sexual. Além das causas diversas, existem também contextos em que o problema se insere que podem agravá-lo ou dificultar o seu enfrentamento.
Um problema, várias causas
A violência sexual assusta e está coberta por um manto de tabu e silêncio. Ao mesmo tempo em que é difícil falar do assunto, não se pode atribuir uma causa especifica. É comum escutar que a causa é a pobreza, que isso “acontece no Nordeste” ou que é “culpa do pedófilo”. Identificar as diversas origens deste problema é fundamental para poder enfrentá-lo.
Os fatores indutores da violência sexual precisam ser combinados com grupos sociais e culturais, momentos históricos e características econômicas. Isolado, um fator como a pobreza não deve ser considerado indutor da violência.
Segundo a socióloga Graça Gadelha, consultora da Childhood Brasil e especialista na área da infância, pesquisas apontam que fatores econômicos são aspectos propiciadores e facilitadores da violência sexual, mas não são determinantes. “O abuso sexual no Brasil não tem uma classe social”, afirma.
Já a exploração sexual pressupõe uma relação de mercantilização em que o sexo é fruto de uma troca, seja ela financeira, de favores ou presentes – podendo até ser um prato de comida. Muitas vezes o agressor acredita estar ajudando a criança e o adolescente. “Infelizmente ainda permanecem diversas fragilidades relacionadas à sobrevivência, que nos dão mais elementos para dizer que a exploração sexual tende a acontecer com mais frequência com os menos favorecidos economicamente”, diz Graça.
Também temos que considerar o fato de famílias menos favorecidas terem menor condição de acompanhar e orientar seus filhos por trabalharem fora e não terem uma rede de apoio. Por outro lado, a insuficiência ou falta de políticas públicas na várias esferas não apoiam e nem garantem um atendimento integrado, contínuo e de qualidade a essas famílias.
Contextos em que a causa se insere
Quando falamos de políticas públicas, é importante observar a sua fragilidade e como isso impacta diretamente na persistência de alguns casos de violência sexual. Campanhas educativas e de mobilização como as que acontecem no dia 18 de Maio e do Disque 100, lideradas pela Secretaria de Direitos Humanos, cumprem seu papel na prevenção. Aperfeiçoar o Sistema de Garantia de Direitos é fundamental para o atendimento e atenção adequados não só para crianças e adolescentes, como para suas famílias e para os agressores.
Os agressores podem ser portadores de algum distúrbio que os leva a praticar a violência sexual. A ausência de políticas públicas orientadas para esse público também são fatores de risco que incidem em casos de violência.
A falta de informação também é um ponto crítico. Desde como abordar temas relativos à sexualidade até sobre os organismos que podemos contar e como e onde notificar. Esse último ponto contribui para a subnotificação dos casos que não nos permite ter um cenário real do problema no país.  Outro fator que contribui para subnotificação é a dependência dos companheiros no orçamento familiar – o que pode explicar em muitos casos a falta de notificação quando o pai ou padrasto são os autores da agressão. Por outro lado, crianças e adolescentes das classes média e alta são geralmente atendidos por médicos, psicólogos ou psiquiatras particulares, fazendo com que a notificação não chegue ao Sistema de Garantia de Direitos, aumentando as subnotificações.
A dificuldade em se ter um cenário apurado influencia na existência de políticas públicas e projetos para este problema específico.
Fatores culturais
Os fatores culturais também têm um peso importante quando falamos de violência sexual contra crianças e adolescentes. E neste universo entra a questão de gênero, os rituais sobre iniciação sexual, tradições de grupos específicos, um forte apelo ao consumo, erotização infantil, entre outras coisas.
A mulher ainda é vista como objeto. E muitas propagandas, como as de cerveja, reforçam esse estigma. “É uma questão que está inserida na matriz cultural brasileira, na forma de ser do homem e da mulher no Brasil, e no exercício da masculinidade”, diz Graça.
Apesar de haver um maior número de casos de homens abusadores do que de mulheres, e da maioria das vítimas ser do sexo feminino, não é incomum acontecerem violações contra meninos praticadas tanto por homens quanto por mulheres. Esses casos, porém, são menos denunciados, pois causa constrangimento, e os dados da realidade acabam sendo mascarados. “O menino fica com vergonha de falar, pois ele é treinado para ser ‘macho’”, conclui Itamar. A ausência de políticas públicas ou projetos para atender meninos também dificulta a notificação e encaminhamento desses casos.
A violência é um substantivo plural, e tem diversas manifestações. Sua ocorrência está muitas vezes baseada em uma relação de poder em relação à vítima. Esse poder pode ser tanto econômico, geracional, de força física, de classe social, ou mesmo de gênero. Refletir sobre o papel de cada um e cada grupo na sociedade e como isso impacta na vulnerabilidade de crianças e adolescentes a violência é fundamental.
Enfrentar a violência sexual é olhar todos esses fatores e contextos com cuidado para não estigmatizar grupos, cenários ou causas.