12 de jun. de 2015

Trabalho Infantil: Uma Violação de Direitos

Hoje, 12 de Junho, é o dia contra o trabalho infantil.  Cientes de que o trabalho precoce também predispõe crianças e adolescentes à formas diversas de violência compartilhamos, abaixo, uma entrevista referente ao tema:


Toda criança tem direito à vida, liberdade, saúde, assistência, educação e proteção. No Brasil, a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) proíbem o trabalho infantil. Para conhecer as questões que envolvem este tema, confira a entrevista com Maristela Cizeski, representante da Pastoral da Criança no Conselho Nacional de Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) e coordenadora da Comissão de Políticas Públicas.

As pesquisas mostram que o trabalho infantil ainda é um grande problema social. Por quê?
O discurso é sempre o mesmo. “É melhor trabalhar do que roubar, eu trabalhei e não morri”. Nós não costumamos ver um discurso das consequências desse trabalho.

Por que as crianças não devem trabalhar?
Porque nós temos uma lei que garante isso e sabemos as consequências disso. A Constituição é clara: menores de 16 anos são proibidos de trabalhar, exceto como aprendizes, e somente a partir dos 14 anos. Não é o que vemos hoje. Há dois pesos e duas medidas. Por vezes, achamos um absurdo a exploração de crianças trabalhando em lavouras de cana, carvoeiros, quebrando pedras e deixando sequelas, mas costumamos aplaudir as crianças que trabalham nos meio artísticos, nas apresentações culturais ou comerciais. A lei diz uma coisa e, às vezes, nós fazemos outras. O Estatuto da Criança e do Adolescente é rico em exemplos de como se deve proteger legalmente as crianças.

O que é o trabalho infantil doméstico?
Em todo o mundo nós temos crianças e adolescentes que estão envolvidos com o trabalho infantil doméstico, remunerados ou não. É muito comum acontecer de crianças e adolescentes postos ao trabalho infantil doméstico fazerem atividades como lavar, passar, cozinhar e outras coisas mais que nós sabemos que acontecem. Eles estão sujeitos a uma série de vulnerabilidades. Não é uma educação positiva, mas é uma educação impositiva, ou seja: traz para essa criança muitas dores, porque ela está sendo imposta por vezes a esse trabalho. Ela não faz como uma situação de brincar, de estar com a família. O problema maior é realmente o domiciliar e o de terceiros, que é mais grave ainda.

Quais são os riscos desse trabalho infantil doméstico?
Estas crianças estão particularmente vulneráveis a se machucar, se cortar, se queimar e, muitas vezes, o trabalho infantil doméstico ocorre de maneira muito invisível ao olhos do público. Nós sabemos que os casos de maus tratos e abuso de crianças no trabalho doméstico são comuns. Então, além dos acidentes, nós temos também a exploração.

Qual é a diferença que existe entre trabalho infantil doméstico e tarefas educativas?
Há uma grande diferença. Trabalho infantil doméstico deixa sequelas negativas e as tarefas educativas promovem o fortalecimento de vínculos familiares e a formação das responsabilidades, ao seu tempo e idade. Portanto, “me ajude a secar a louça”, desde que não tenha um facão lá; “me ajude a limpar aqui”, desde que não tenha algo de risco. Isso se torna uma educação positiva, que fortalece vínculos familiares, diferente da exploração.

O que as crianças e os adolescentes podem fazer em casa, que não seja considerado trabalho infantil doméstico?
Veja bem, se você está varrendo a casa, a criança pode estar junto? Pode, deve, é uma educação positiva. Agora, se está lavando uma louça e tem panelas acima do peso da criança, que ela não pode aguentar, não pode fazer isso. Ela tem que manusear aquilo que está de acordo com a idade dela e para o peso dela, não pode ter algo acima do comum. Outro exemplo: se está fazendo alguma coisa no fogo, no fogão ou no forno, a criança ou o adolescente, por vezes, não têm noção de que aquilo está muito quente e que pode queimar. Então, nós temos consequências gravíssimas, como queimaduras com óleo ou corte com a própria faca - cortando carne, que não seria uma tarefa dela, seria uma tarefa exclusivamente dos seus provedores. A criança faria apenas a tarefa que é dela, de uma educação positiva.

Nas tarefas educativas é preciso sempre evitar acidentes, não é?
Sim, é muito importante ter este cuidado e evitar o acidente, esse cuidado de um olhar terno e fraterno para com todas as tarefas educativas. Não pode ser, por exemplo, educativo a criança em cima de uma cadeira e o fogão fritando batatinha. É responsabilidade, é violação de diretos. Nós não podemos violar direitos de meninos e meninas, deixando eles à mercê de um acidente doméstico.

O que fazer para não haver exploração do trabalho infantil doméstico?
Nós sabemos que há o trabalho infantil. Então, é necessário que as pessoas observem que tem o trabalho infantil de forma negligenciada, não de uma tarefa educativa, de uma forma não de fortalecimento de vínculos, mas de trabalho mesmo. Precisamos orientar as famílias, estar junto com essas famílias, e, se necessário, denunciar essas violações de direitos nos conselhos tutelares. O número para denúncias sobre violações de direitos de crianças, desde a exploração sexual, o trabalho infantil e outras demandas é o 100 (Disque 100).

E dar esmola ou comprar alguma coisa que a criança está vendendo na rua, isso ajuda?
Não, nós não podemos doar dinheiro, doar esmola para um sujeito de direitos. Nós precisamos tirar essa criança da mendicância, garantir que seus direitos sejam assegurados, que ela acesse os serviços socioassistenciais e que eles executem políticas públicas. E se não têm essas políticas públicas, nós temos que participar dos Conselhos de Direitos para que elas sejam efetivadas.

Se a criança é prioridade absoluta, por que os governos colaboram tão pouco com as políticas públicas voltadas às crianças?
É um problema de governantes que não entenderam o princípio da prioridade absoluta. Eles fazem seu juramento com base na Constituição Federal, e lá está o artigo 227. É dever do Estado, da sociedade e da comunidade garantir com absoluta prioridade o direito da criança, a vida, a saúde, alimentação... Ou seja, eles juram sobre essa Constituição, mas não sabem porque juraram. Então, nós temos muitos governantes que não sabem o que estão fazendo.

Esta entrevista é parte do Programa de Rádio Viva a Vida da Pastoral da Criança. Ouça o programa de 15 minutos na íntegra
Programa de Rádio 1230 - 27/04/2014 - Trabalho infantil


FONTE:  http://www.pastoraldacrianca.org.br/pt/tema/3585-trabalho-infantil-uma-violacao-de-direitos

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